Sobre as ondas, sobre o lodo

Ao ouvir o ciciar das cobras e o ranger dos dentes dos lagartos Gulinenses, mais conhecidos pela sua digestão rápida e eficiente de pequenos insectos Budistas, uma nova guia se vislumbrava por entre o nevoeiro opaco que caía sobre a cidade de Guilin, pelas 9 da manhã. Este nevoeiro era também conhecido por “Nevoeiro das 9 da manhã”.

Como já era de esperar, neste segundo dia choveu “a potes”, ou se preferirem, “a chopsticks chineses”. Preparámo-nos para navegar no famigerado “Dragão do Rio Li”, a nossa poderosa lancha. O Rio Li é conhecido pelos seus cativeiros de lodo e pelos gigantescos barcos turísticos que transportam todos os dias biliões de chineses até à encosta da pequena localidade de Yang Shou. Assim partimos nesta cruzada pelo mar, entre algas e corais de lodo, no embalo das marés criadas por estes veículos hidráulicos, que revelaram ser uma praga durante 4 horas de viagem. O nosso “Dragão” contava com 4 lugares e meio, sendo Paivung o nosso contrapeso com precisão sub-milimétrica.

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Tornámo-nos grandes amigos, desse grande marinheiro: “o Hamster do Rio Li”, que ao receber pequenas oferendas em forma de géneros os guardava religiosamente na sua bolsa marsupial, tal como nos momentos Kodac: “para mais tarde mastigar”. Passados 10 minutos de manobras a estibordo e a bombordo, o “Hamster” decidiu verter águas numa qualquer encosta do Rio Li. Nesse momento lembrámo-nos de vários filmes de guerra americanos, onde os vietnamitas saíam por de trás das árvores e rastejavam enfurecidamente pelo chão enlameado. Éramos os verdadeiros “bravos do pelotão”.

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Durante toda a viagem reparámos que os gigantescos barcos turísticos eram multi-funções (tal como as impressoras), pois a cozinha tanto servia para cozinhar como para tomar banho, ou efectuar tarefas mais simples como lavar os pés.

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Depois de nos deliciarmos com variadas paisagens de cortar a respiração, aportámos em Yang Shou.

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A saída do barco revelou-se atribulada. Embora não tivéssemos perdido nenhum homem no rio, a bolsa do pequeno gnomo siberiano que continha uma máquina de filmar, caiu ao rio. Picos e Pauling numa manobra de salvamento e Paivung numa manobra de divertimento conseguiram recuperar tão precioso item.

Com mais uma mala ensopada, seguimos para o local de almoço, onde o lema era: “Coma-os enquanto estão vivos!”. Este restaurante foi o primeiro a introduzir o conceito de menus vivos. Enquanto que num comum restaurante os menus são apresentados de forma escrita, neste os menus moviam-se e emitiam sons, podendo o cliente escolher o que desejava apontando o dedo (mas não muito perto!). De 4 especialidades da casa que foram pedidas, apenas 2 eram comestíveis, pelo menos por bocas ocidentais. Abandonámos o restaurante com a barriga exactamente no mesmo estado com que entrámos e com a carteira mais leve. É de realçar a facilidade com que se podia fazer “slalom” pelo chão do restaurante, uma vez que este se encontrava completamente escorregadio.

Posto isto, rumámos a mais um destino desconhecido. A nossa guia, como tinha frequentado a mesma universidade da guia do dia anterior, tentou impingir-nos mais uma dezena de excursões, não obtendo qualquer resultado uma vez que já tínhamos tomado a vacina para este tipo de doença. Escolhemos prosseguir para as Caves do Buda Preto (Black Budha Cave), ao que a guia torceu o nariz, alegando que estas se encontravam cheias (porque será?). Tal não se revelou, e uma vez dentro das caves, que revelaram ser uma verdadeira relíquia desta China profunda, tentámos fugir a mais uma dezena de excursões megafonenses. Ao sair das caves, Paivung ainda teve tempo para simular uma queda, que a acontecer faria lembrar uma cena do tão conhecido filme “O Exorcista”.

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A caminho do nosso táxi privado, Picos vislumbrou um anúncio no KFC que ilustrava “Pasteis de Belém”. A pergunta que se punha era: “Pasteis de Belém em Yang Shou?”. É claro que não! Eram apenas uns bolinhos de café que tinham a mesma forma, mas um sabor horrível. Ainda bem que não comprámos muitos.

Posteriormente, em conversa com Rodrigo, Paivung informou-se acerca dos preços da viagem de avião de volta para Shangai. Este descobriu que ficaria pela módica quantia de 600 diracs por pessoa. O pânico generalizou-se até Paivung ter posto a hipótese de que esta quantia possivelmente era respeitante a um bilhete de ida e volta. Ao apercebermo-nos deste facto, entrámos numa contagem decrescente, tendo apenas 3 horas para: voltar para Guilin; comprar os bilhetes; fazer o check-out; ir para o aeroporto; fazer o check-in; e apanhar o avião. A acrescentar a este facto, o Ró em sincronização connosco, teria que comprar os bilhetes para Huangshan o mais rapidamente possível. Só uma pessoa poderia fazer com que isto fosse possível: Frank!

 

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Ao chegarmos ao quartel-general de Frank, este revelou conseguir tudo em troca de uma boa maquia de diracs. Segundo aqueles que sobreviveram ás negociações com este chefe da máfia turística, a primeira frase proferida no início das negociações era: “I’m gonna make you a proposition you can’t refuse, or else you’ll be sleeping with the fishes!”. O poder de Frank era realmente abismal! Embora o avião estivesse lotado, ele conseguiu arranjar-nos 4 bilhetes, vá-se lá saber como.

Fomos então fazer o check-out à pensão e o Paivung foi fazer outro tipo de check-out à casa de banho, pois já se encontrava com alguns espasmos e com uma ligeira tonalidade púrpura visível no rosto. Com a pressa toda ainda deixamos 200 diracs de gorjeta na pensão, que por coincidência correspondia ao dinheiro do depósito que tivemos que pagar quando fizemos o check-in. E como tudo acaba bem quando começa mal, lá chegamos ao aeroporto em tempo recorde dando ainda tempo para beber um cafezinho no aeroporto. Nesse café introduzimos um novo tipo de arte à base de rolos de papel higiénico e rosas artificiais. Relaxados, apanhámos o avião para Shangai, onde mais uma vez o pequeno gnomo manteve a pestana aberta durante todo o voo, não fosse o avião fazer das suas.

A aterragem foi suave como a queda de um corpo humano de 1000 metros sobre uma montanha de calhaus e logo de seguida apanhámos o mini-bus para a casa do Ró. Ao chegarmos a casa do Ró, perto da 1:30 da manhã, esperámos durante 30 minutos que este viesse à porta ouvir a serenata: “Linda donzela vem à janela que a TABAS passa…”.

O pessoal todo

 

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